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Educação


Dia das Mães: elogios e outras realidades



Mães, vocês gostariam de ouvir elogios em uma palestra, feita por um homem, sobre os desafios de ser mãe, neste limiar do século XXI? Talvez gostariam devido ao volume de atividades que fazem, sem o devido reconhecimento social, o que deixa sua autoestima baixa. Afinal de contas, o estresse do mundo atual está grande, seus filhos, rebeldes, e o peso da rotina faz seu casamento ficar chato. Além dos problemas hormonais que afetam seu humor. Realmente, vocês merecem elogios.

Então, o palestrante começa a lhes fazer mil elogios. Ele fala que vocês são seres superiores e únicos, por terem o dom da gestação. E que coube a vocês criarem os filhos e proteger os filhos e o marido, pois eles não têm a sua competência. E diz que essa missão é tão divina que só as mães dão conta de cuidar das crianças de forma tão completa. Gostariam de ouvir esses elogios?

Se vocês se inspirarem em sua avó, ou em sua própria mãe, certamente vão concordar com o palestrante. A emoção será positivamente forte e vão ficar com os olhos cheios de lágrimas por ouvirem tantas palavras bonitas. Afinal, ninguém mais na sua casa tem missões tão honrosas. Mas, talvez, influenciadas pela faculdade, por amigas nas redes sociais, ou por serem muito questionadoras, achem tudo muito ridículo e só consigam ver machismo nos elogios e uma boa forma de os homens fugirem de atividades domésticas que deveriam ser obrigações do casal.

Certamente as mães da plateia não vão pensar da mesma forma. Enquanto algumas sentissem vontade de chorar de raiva por ouvirem os elogios como manipulações da visão masculina, talvez outras gostassem de ouvir o que faz bem ao ego. No entanto, vamos considerar que, na plateia, estejam mães questionadoras, que comecem a refletir: Espera lá! Claro que gostamos de elogios e merecemos todos esses. Mas há alguns equívocos na fala do palestrante.

Sou importante por gerar filhos, mas eu não os gerei sozinha. E não adotei outros para criar sozinha. Então, as responsabilidades decorrentes dessas decisões não são apenas minhas. E outra coisa: quem disse que cabe só à mulher proteger a família? Não concordamos com essa expectativa social feminina do palestrante, para quem criar e cuidar dos filhos são obrigações apenas das mães. Por fim, imagine se essas mães resolvessem pedir a palavra, para expor esses seus pensamentos? 

Evidentemente que o palestrante estaria di­ante de um conflito e um grande problema. Poderia amenizar o conflito, dizendo que as obri­­gações domésticas são responsabilidades também dos homens. Bem, aqui deparamos com outras realidades sociológicas que o palestrante não levou em conta nos elogios. O tempo todo, ele defendeu o modelo de família heterossexual, formada por mulheres e homens. No entanto, sejamos contra ou a favor, estão aparecendo outras construções familiares em que duas mulheres constroem relações homoafetivas, adotando crianças ou criando filhos do casamento anterior de uma delas.

E, logo a seguir a essa fala, uma meia dúzia de mulheres na plateia pedisse a palavra e perguntasse ao palestrante qual é a concepção que ele tem sobre os desafios de criar e educar os filhos dentro de uma estrutura homoafetiva?

Como ficaria a palestra às mães, na perspectiva do palestrante? Difícil de responder, não? Penso que podemos tirar uma conclusão bem realista e prática dessas cenas que idealizei: estão surgindo novas concepções de família, independente das opiniões das Igrejas e re­ligiões, dos políticos e juristas.

Outra questão prática: precisamos abrir nos­sa cabeça e mudar nossos conceitos sobre o papel das mães na atualidade e sobre outras estruturas familiares que estão aparecendo perto ou longe de nós. De repente, o Dia das Mães poderia se transformar em ?o dia da família? estruturada entre homem e mulher, mulher e mulher ou homem e homem. Afinal de contas, não uma das queixas das mães não é a omissão do parceiro no cuidado com os filhos?

Se a qualidade de cuidar for do casal, não vai importar a orientação sexual com a qual a família foi formada.

Onde existir a prática do amor e do carinho e as pessoas se sentirem protegidas e cuidadas, existirá a situação ideal tão desejada, ajudando o casal a olhar na mesma direção, ainda que entre conflitos, comuns e necessários às pessoas.

José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: joseantonio281@hotmail.com



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Escrito por Educação, no dia 26/05/2017




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