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A ausência de transporte coletivo eficiente dificulta o acesso a serviços essenciais como saúde, educação e trabalho
Enquanto nos grandes centros urbanos alternativas como metrô, ônibus expressos e aplicativos de mobilidade surgem como opções viáveis para o deslocamento diário, em cidades menores, a realidade é bem diferente. A falta de investimento em transporte público de qualidade torna o carro particular uma necessidade quase inescapável para a maioria dos moradores. Em municípios com estrutura urbana mais limitada, as linhas de ônibus, quando existem, são escassas e com horários restritos. A ausência de transporte coletivo eficiente dificulta o acesso a serviços essenciais como saúde, educação e trabalho. Além disso, muitos bairros periféricos sequer são contemplados pelas poucas rotas disponíveis, obrigando a população a buscar meios próprios para se locomover. Nesse contexto, o automóvel não é visto como um artigo de luxo, mas, sim, como uma ferramenta indispensável para o cotidiano.
De acordo com estudo sobre transportes da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgado em outubro de 2022, 63,2% dos brasileiros avaliam o transporte urbano como ruim ou péssimo. A pesquisa também apontou que, em uma escala de zero a dez, a qualidade da mobilidade urbana no país alcançou apenas a nota 4,2. Ainda, segundo a FGV, entre os mais de três mil municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes, muitos não possuem sequer uma política pública de mobilidade urbana, descumprindo a legislação que exige um plano específico para esse fim.
Ademais, dados do IBGE, do Censo de 2022, mostram que mais de 80% dos municípios brasileiros possuem menos de 50 mil habitantes. Em muitos desses locais, a extensão territorial e a baixa densidade populacional tornam inviável economicamente a implantação de sistemas de transporte público robustos.
A falta de opções empurra a população para a compra de veículos próprios, mesmo entre aqueles com rendas mais modestas. O carro torna-se, assim, um investimento necessário para garantir autonomia e qualidade de vida. Outro fator que agrava a situação é a ausência de alternativas seguras para o deslocamento a pé ou de bicicleta. Muitas ruas em cidades pequenas não contam com calçadas adequadas ou ciclovias, aumentando o risco de acidentes e tornando ainda mais inviável deixar o carro em casa.
Além disso, a distância entre bairros residenciais e áreas comerciais ou de serviços é, muitas vezes, significativa, o que inviabiliza a mobilidade sem motorização. De acordo com a Pesquisa Mobilidade Urbana 2022, realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, os brasileiros perdem, em média, cerca de 21 dias por ano no trânsito, com um tempo médio diário de deslocamento de 1 hora e 4 minutos. Nesse cenário, a compra de veículos novos nem sempre é uma opção para a maioria dos moradores, especialmente em tempos de instabilidade econômica e alta nos preços dos automóveis.
Por isso, nessas regiões, a busca por carros seminovos é elevada, já que oferecem um melhor custo-benefício para quem depende do veículo no dia a dia. Ainda, a possibilidade de adquirir um carro em boas condições, com preços mais acessíveis, torna esses veículos uma solução financeiramente viável para suprir a necessidade de locomoção.
Além do fator econômico, esses automóveis apresentam a vantagem de depreciar menos do que os veículos novos nos primeiros anos de uso. Isso significa que, em caso de revenda, a perda financeira tende a ser menor, um aspecto importante para famílias que precisam otimizar seus recursos. Assim, a realidade da mobilidade fora dos grandes centros é marcada por uma dependência forte do automóvel, moldada por uma infraestrutura pública insuficiente e pela necessidade de garantir acesso aos direitos básicos de cidadania.
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Postado por Sônia da Conceição Santos, no dia 09/06/2025 - 16:17