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Pescaria


Conheça os mitos e histórias da Lagoa Nova, atual Lagoa da Copasa



Foto: divulgação

 

Estava eu caminhando pela Estrada Real, subindo o morro em direção à localidade do Rancho Novo, e lá do alto mirei o olhar na Lagoa Nova. Hoje outros a chamam também de Lagoa da Copasa. De imediato procurei um lugar ao lado e, em um barranco na beira da estrada, me sentei à sombra de um pequeno arbusto para melhor vislumbrar a paisagem do local. Percebi logo as ausências dos marrecos e das garças-brancas pelas margens da lagoa.

O pouco volume de água também me fez refletir sobre o futuro da lagoa. Passei então a lembrar dos meus tempos idos de uma infância feliz no bairro Morro da Mina, na década de 60. Os moradores do Bairro tiravam o seu sustento e de seus familiares nos trabalhos pesados da mineração da então extinta companhia Meridional.

Ali se respirava o ar puro da humildade, que combinava com o cheiro gostoso e inconfundível das flores do eucalipto que circundavam o bairro.

As ruas de terra de chão batido com suas casas quase iguais prenunciavam a simplicidade de uma comunidade de fé e rica em solidariedade. As crianças, descalças no chão e de calças curtas com suspensórios de pano, em algazarras corriam pelas ruas atrás da pequena bola de borracha.

Nessa época já se notava a importância da Lagoa Nova para seus moradores: além de permití-los desfrutarem das abundantes pescarias, ela era atrativa e servia também como uma espécie de piquenique para os familiares. A pesca favorita era a das traíras que viviam em profusão; em profusão nasciam também os juncos que margeavam a lagoa e dificultavam a captura do peixe, que vivia em seu habitat natural.

Para um bom êxito da missão, era necessário um caniço de um bambu resistente, boa tralha, noção de espaço entre a margem da lagoa e os juncos, e também uma força proporcional às habilidades. Todo esforço era válido, as traíras tinham um bom porte e sua carne era muito apreciada. Todos se gabavam de preparar a melhor traíra, além do angu como ingrediente preferido, e não poderia faltar a garrafa de pinga previamente armazenada.

Nessa época, se ouvia falar de uma grande serpente que por vezes aparecia singrando as profundas, límpidas e calmas águas da lagoa. Era preciso ficar atento, um olho no peixe e outro na serpente. Havia apreensão... alguns ignoravam, outros juravam de pés juntos a veracidade do fato e se colocavam como testemunha ocular, ao descrever os pormenores do intruso réptil, por exemplo: “A cabeça com aparência de um gato, o diâmetro equivalente ao do pneu de uma moto, uns três metros de cumprimento... talvez mais!”.

Todos os relatos do aparecimento repentino da serpente eram precedidos de uma calmaria, quando os peixes desapareciam e aí... adeus pescaria. Quando isso acontecia, o primeiro passo a ser dado era ajuntar as tralhas, recolher os peixes e se mandar. E, para se acalmar do susto, parar no primeiro boteco à vista e tomar uma cachacinha. Depois, contar o causo e quem sabe outro dia voltar.

José Ferreira Xavier (Duão)
joseferreiraxavierxavier4@gmail.com




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Postado por Nathália Coelho, no dia 20/08/2023 - 08:20


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