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Educação


Que legado deixaremos para as futuras gerações?



A professora Claudia Costin fez um desabafo sobre o qual precisamos refletir. Analisar, sem criar rótulos, não costuma muito ser o nosso forte, mas sempre há alguém disposto a pensar antes de fazer julgamentos precipitados. Ainda bem! Mas veja o que ela diz sobre redes sociais! ?Apaixonada por educação, uma das tarefas que me imponho é escrever nas redes sociais todos os dias sobre o tema, pensando em matérias que possam interessar a professores, alunos de universidades e ativistas na área. Faço uma curadoria do que saiu na imprensa e na própria rede a respeito e posto no Twitter, copiado para o Facebook.

Comecei com isso como secretária de Educação do município do Rio, pensando em dialogar com os professores, mas logo percebi o imenso potencial que as redes proporcionam, especialmente em ensino e aprendizagem. Hoje, depois de atuar no Banco Mundial e aqui em Harvard, tenho professores de diferentes países me seguindo no Twitter, o que me leva a escrever não apenas em português. Mas minha atuação nas redes sociais trouxe-me a triste percepção sobre o ódio e a polarização que aí circulam. Hoje diferentes tribos têm voz, o que poderia ser um elemento interessante de enriquecimento de perspectivas e de busca de agendas comuns entre visões distintas, mas infelizmente, há poucas pontes entre elas.

As pessoas, ou seriam perfis, presentes nas redes, tendem a seguir apenas quem pensa exatamente da mesma maneira e, se por algum erro de avaliação, ou prazer em ofender, encontram alguém percebido como da "tribo" inimiga, atacam sem piedade e não perdem tempo lendo o que o outro escreve.? São os "tempos do cólera", parodiando Gabriel García Márquez. Estamos bravos com o mundo e só enxergamos duas possibilidades: ou você pensa em todos os tópicos igual a mim, ou utilizo alguma etiqueta para desqualificar sua eventual contribuição.

Mas, nesse triste contexto, educamos crianças, que cedo aprendem com seus pais e mestres a rotular para não ter que gastar tempo tentando entender, a rotular para odiar. Ora, que tipo de mundo isso ajuda a construir para as futuras gerações? Certamente um espaço em que frutifica o pensamento atrofiado, os preconceitos e que não se abre para a coexistência pacífica na diversidade.

Amos Oz, grande escritor israelense, quando perguntado sobre o ódio, comparou-o com um fogo que quer tudo engolir. Mas tenho uma colher de chá e posso com ela jogar água no fogo, afirma o autor para um interlocutor atônito que não o entende. Nisso ele esclarece: "Somos muitos a ter colheres de chá com água e podemos juntos enfrentar o fogo."

O legado que podemos deixar para as próximas gerações é a redução da força do ódio e a construção de uma agenda comum que contemple um planeta sustentável e pacífico, uma educação inclusiva e de qualidade para todos e oportunidades de desenvolvimento do potencial de cada um.?

Ela utiliza expressões bastante intensas, tais como: ?tribos inimigas? e ?pensamento atrofiado?, ?rotular para odiar? e ?coexistência pacífica para a diversidade?, ?redução da força do ódio? e ?construção de uma agenda comum? para a educação. É sobre essas picuinhas entre tribos que acabam deixando para trás a construção de uma agenda de mudança na educação que ela critica. E é esse legado de preconceitos e intolerância à diversidade que ela teme que deixaremos para as futuras gerações.

De fato, não é fácil ?gastar tempo, tentando entender? pontos de vista divergentes dos nossos, principalmente porque tendemos queimar os que não pensam como nós. Sempre falei com meus filhos sobre a necessidade de sermos tolerantes aos que pensam de forma diferente da nossa. É exercício difícil, mas precisa ser tentado. Apegamos às ideias que nos dão chão firme, mesmo atrasadas e com retrocessos em nossa vida. Volto a Guimarães Rosa: ?O animal satisfeito dorme?. Eis o desastre do atraso do pensamento humano.

Fonte: Folha de São Paulo, 16 de

dezembro de 2016.


José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: joseantonio281@hotmail.com



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Escrito por Educação, no dia 26/01/2017




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